29 de maio de 2009

Até ver, abstenho-me.

Além do direito de votar, uma das mais elevadas possibilidades que esta democracia prevê é a de não votar - ao contrário do que diz a catequese moralista. Nem todos os sistemas podem gabar-se do mesmo. O empenho, o interesse e a cultura da cidadania mede-se pela forma como se declaram os rendimentos, pagam os impostos devidos, se respeita o espaço físico e mental comum e de cada um. O voto pode, apenas e só, servir de ritual de purificação para algumas consciências empedernidas.

Apesar de nunca constituir rastilho de mudança, a abstenção tem um impacto mediático incomparavelmente maior que o mais empenhado voto em branco. É pena. Arrumam-se os votos em branco na gaveta das bizarrices quando, na realidade, podiam ser uma das mais significativas manifestações de nojo pelo insulto com que a maioria da classe política brinda, todos os dias, todos os cidadãos. Na verdade, em tempos ainda achei que isso se devia a uma maquiavélica estratégia de imbecilização geral. Já mudei ligeiramente de perspectiva. Afinal acho que está tudo em ordem. Não damos para mais, nós e eles.

27 de maio de 2009

Seriaige

Não é por ter vindo do JLx. Como toda a gente sabe (embora às vezes se fale de outras coisas), não resisto a uma corrente na net.

As melhores séries de sempre (umas são parte do mito individual do neurótico, outras consensualizam por aí) são, sem sombra de hierarquia:

The West Wing; Northern Exposure; Seinfeld; Sherlock Holmes; Battlestar Galactica; Entourage; Monty Python's Flying Circus; Allo Allo; X-Bomber; Alfred Hitchcok Presents; Yes, Minister; The Sopranos; Six Feet Under; Black Adder; Hill Street Blues; The Simpsons, Cheers; Les Mystérieuses Cités d'Or...
(W.I.P.)

Passo o coiso à limão, à abbie, ao glooka, à corpo e à F-with-rings-on-her-fingers-and-bells-on-her-toes.

Adenda: Acho que confundo 'as melhores' com 'as da minha vida', mas pronto...

25 de maio de 2009

Sorridor (€4)

[autor desconhecido]

24 de maio de 2009

À lei da bomba suja

Não tenho competência para avaliar o conteúdo dos recados do bastonário dos advogados, embora saiba que não aprecio o estilo. Acho muito bem que alguns temas provoquem terramotos, mas abomino a lei da bomba. A lei da bomba implica sempre que o próprio conteúdo fique estilhaçado pela explosão e pelas ondas de choque. Tudo aquilo encerra algo de suicidário.

Já em relação à Moura Guedes, a coisa muda de figura porque, na minha opinião, é incomparavelmente mais grave. A Moura Guedes é a boca armada de uma estratégia comum, muito maior que o simples ataque ao governo. Moniz pegou no 4º canal com a noção clara de que não conseguiria competir com a SIC, no território em que a SIC se posicionou. Para obter poder (influência e dinheiro) restavam-lhe duas hipóteses: a excelência ou o primarismo rasca. Percebeu imediatamente que a primeira opção era utópica. Ainda que o soubesse fazer, trabalharia para um pequeno nicho de mercado. Ao fim de 500 anos, se o país acordasse do coma genético poderia, talvez, sonhar em atingir os seus objectivos. A segunda opção estava conquistada à partida. Se fosse suficientemente bidimensional, se substituísse pessoas por imagens de cartão e cidades por cenários de fachada, se clivasse o mundo em bons e maus apelando, qual Pavlov em Queluz, à boçalidade sempre pronta a despontar, conquistaria tudo.

Assim foi. Desde o início do mandato, certificou-se de que conseguiria fidelizar os apoucados e resgatar as almas perdidas, que deambulavam no sangue que a SIC lhes oferecia, embora o tenham sempre considerado excessivamente estilizado. Modernices. A TVI ofereceu, então, o encaixe perfeito: touradas, exploração da intimidade, emoções básicas, religião, péssimo grafismo, cenários medíocres e actividades erótico-festivas. A coisa resultou tão bem que até assustou a SIC. O que a safou (a SIC safou-se?...) foi ter levado uma abada nos territórios bárbaros e, apesar disso, a estação de Carnaxide ainda fez uns brilharetes a chafurdar na merda. Mas a TVI já era indiscutível e estava instaladíssima onde haveria de ficar.

A informação (lol) é o corolário, nesta estratégia da pocilga. Moura Guedes concentra-se no registo mais execrável que lhe for possível, agarrada à convicção de que as pessoas às quais se dirige, mesmo que sejam um bocadinho melhores que aquilo, depressa se rendem a um bom regabofe de imbecilidade justiceira. Tem-lhe corrido bem, o país dela parece achar que não merece melhor.

Finalizando...

"(...) tudo o que for um arremedo de oposição ao governo, por estes dias, parece-me bem. Saudável, pelo menos. Cada um joga com as armas que tem, e as de quem está no poder num determinado momento são sempre poderosas, por isso que venha o contraditório, sob que forma for."

Não sei se a autora pretendeu demarcar-se de um certo lip service, mas o post agora em causa não passa de um elogio à lei da bomba suja, no sentido em que MMG não é minimamente cirúrgica (ao contrário do que possa parecer). E as baixas indiscriminadas, mesmo pensando que o Marinho Pinto atinge o país ao atingir o sistema de Justiça (na verdade, todo o sistema de Justiça se atinge constantemente a si próprio), as baixas são incomparavelmente mais graves do que no caso do bastonário. O noticiário tem uma imensa exposição e é diário, ano após ano.

Explico-me: mesmo que as bocas da Guedes tenham o nome dos alvos aos quais se dirigem, são tão boçais e estupidificantes que acabam por nos atingir a todos, incluindo os que não a vêem. Atingem-nos a inteligência, o pensamento crítico e destroem uma noção que, a meu ver, é das mais importantes na arte do tal contraditório: a lealdade para com os inimigos. Se a expressão "lealdade" chocar, eu reformulo: jogo limpo. Ingenuidade à parte, é assim que um povo cresce. No exercício da argumentação.

[img] Ric Stultz

22 de maio de 2009

Parecem parvos - serão?

Se calhar estou longe de ser o público-alvo da(s) coisa(s), mas esbarro e embirro e às vezes espirro, assim que agora me lembre, com duas das maiores campanhas publicitárias em vigor:

- O Cristiano Ronaldo, multimilionário com muito jeito prá bola (deus o conserve para felicidade própria e dos seus), a promover o melhor banco para guardar as poupanças. Se a ideia é pôr o povo a sonhar com um extracto parecido ao do rapaz pela partilha do mesmo cofre, tomam-nos a todos por parvos. Dinheiros daqueles vêm com artes a que poucos, no mundo todo, poderão aspirar. E ninguém pensa na maçada dos treinos, dos jogos ou dos estágios como equivalentes do seu próprio emprego cinzento, nainetufaive. Para além disso, um jogador da bola (ainda) não é tido como gajo conselheiro ponderado e racional, embora esses também existam. O Ró-naldo não é um deles, mas o senhor Franquelim, que também tem conta no BES, tem de o ser.

- A frase "Sabe bem pagar tão pouco", que o Pingo Doce fez imprimir em todo o lado - outdoors, neons por cima dos estaminés e até nas etiquetas dos preços. Eu fico lixado. Estou a milhas de pensar, quando pego nas Estrelitas, o quão bem me sabe pagar tão pouco. Sinto que estão a gozar comigo, que não é assim que se hipnotizam as gentes, não é chegando à burra que logo se lhe arranca um pêlo. E eu nem olho para o preço das Estrelitas.

21 de maio de 2009

20 de maio de 2009

17 de maio de 2009

Não pode ser nada fácil, animar a Wonderland de Alice em cena, pela infinitésima vez desde que Dodgson / Carrol as inventou, em 1865. O Teatro de Marionetas do Porto assumiu o risco da irrelevância. O que se passa, durante pouco mais de uma hora, merece ser ouvido e visto. A forma como os intérpretes se unem aos bonecos e neles se continuam e expandem, sem alguma vez fazerem de conta que não existem, é simplesmente notável. Como se fosse óbvio que nos sonhamos sempre enrolados aos elementos dos nossos sonhos. Até 24 de Maio, no Cine Teatro Constantino Nery, Matosinhos

11 de maio de 2009

Gestalt urbano-depressiva

Num artigo sobre o aumento da insegurança em certas zonas, geralmente subúrbios, fiquei a saber, pela foto-reportagem publicada no i, que do mobiliário urbano da Bela Vista consta um avião de guerra. Inspirador; zen até dizer chega. Qualquer miúdo que ali cresça e se faça homem vai pensar, enquanto cresce e se faz homem: que coisa foleira, sobrevoar o inimigo a velocidades demoníacas e aterrorizá-lo com mísseis teleguiados, rajadas de metralha ou dar-lhe o cheiro a napalm pela manhã. Nã..., vou estudar probabilidades, estou quase a perceber a cena dos algoritmos. O fim-de-semana aproxima-se e depois não dá, tenho que ajudar o padre no projecto uma-bíblia-pela-tua-seringa.

8 de maio de 2009

O Filho do Requeluso

Júlio Miguel & Lêninha (sem a Lêninha) Cantam: Sentimentos e Alegrias

6 de maio de 2009

Agarrem-no senão ele pensa que faz, pensando.

A seguir participará no colóquio 'Se me coçasse deixaria de sentir comichão'.
E isso é como se já se tivesse coçado.

4 de maio de 2009

Então... Obrigado.

Morreu o Vasco Granja, fundador (em mim e noutros largos milhares de "amiguinhos") de uma pequena ideia sobre o tamanho do mundo. E isso, nas infâncias, vale quase tudo. Mesmo que, por vezes, só visse o filme do Petrissumovič como antecâmara para a Pantera Cor-de-Rosa, a porta ficou aberta. E, por isso, que está muito longe de ser pouco, obrigado.

2 de maio de 2009

Home by the water

Ric Stultz

1 de maio de 2009

Da aflição narcísico-melancólica do artistola

" Ele não trabalhava como alguém que trabalha para viver, mas sim como alguém que não quer senão trabalhar, porque como ser vivo não se considera nada, apenas lhe interessa ser tido como criador e por tudo o resto passa despercebido e discreto, como um actor sem caracterização, que não é nada se não tem nada para representar. Ele trabalhava em silêncio, fechado, invisível e cheio de desprezo para com os pequenos artistas para quem o talento era um adorno social, aqueles que, fossem pobres ou ricos, andavam sujos e esfarrapados ou que praticavam o luxo com as suas gravatas fora do normal, se preocupavam principalmente em viver felizes, amados e artisticamente, ignorando que as grandes obras só surgem sob a pressão de uma vida dura, que aquele que vive não trabalha e que é necessário estar morto para se ser de facto um criador.

(...)

Um artista de verdade, não um desses cuja profissão burguesa é a arte, mas sim um predestinado e amaldiçoado, detecta-se facilmente com um olhar pouco agudo por entre uma multidão. O sentimento da separação e o facto de não pertencer a parte alguma, o sentir-se reconhecido e observado, algo de ao mesmo tempo majestoso e embaraçado está patente no seu rosto. Nos traços de um príncipe que à paisana avança por entre uma multidão pode-se observar algo de semelhante. "

Thomas Mann (Tonio Kröger, 1903)