2 de junho de 2009

Jardim Antropológico

Aborrece-me a mais ou menos disfarçada tabloidização de quase tudo o que não tenha nascido para o ser, notícias tratadas por ângulos a puxar a fulano, anunciação de iminentes argumentos ad hominem (isto na melhor das hipóteses, por apesar de tudo ainda serem contra-argumentáveis).

Mas dá-se um fenómeno curioso: há uns anos negaria qualquer espécie de pulsão voyeurista sobre as vidas dos famosos e derivados, daqueles que não existem sem a constante tabloidização de si próprios. Hoje assumo visitas regulares aos sites com as capas da especialidade, ao comentário social-frívolo em invariável mau português, às tele-tertúlias cor-de-rosa; enfim, ao mundo das tangentes. Aquelas vidas fazem tangentes a quase tudo, e isso é de uma extraordinária riqueza antropológica.

Sugeriu certa vez João dos Santos, em corolário sobre educação sexual, que os pais levassem os filhos ao jardim zoológico. Para uma introdução ao grande universo dos pequenos horizontes, por dependerem da folia das emoções mais básicas, sugiro visitas ao jardim do boato, da inveja mal disfarçada, do amor eterno e do divórcio público em meio ano, relatados minuto a minuto; do bebé-gadget, da desilusão e do 'esgotamento', da filosofia ready-made, da interminável adolescência. Aprende-se muito e, volta e meia, aparecem miúdas giras.

[img: Manara]