26 de outubro de 2008

W.

W., o filme com que Oliver Stone apresenta ao mundo o 43º presidente dos EUA. A sensação imediata é a de uma obra pouco conseguida. Tenho lido comentários que vão de um extremo ao outro, daqueles que acham que o realizador foi excessivamente brando ou benevolente para com uma figura que o mundo, de bom grado, se habituou a detestar; até aos que defendem a abordagem artística e que acham que W. deve ser julgado unicamente como peça cinematográfica que é, independentemente de tudo o resto. 

Não me parece possível nem sequer desejável, seja na perspectiva de cidadão/espectador do mundo, seja na de simples consumidor de arte, abstrair-me de ter à frente dos olhos um filme baseado na vida de uma das pessoas que mais influência teve (e tem, e terá) na ordem mundial. Mesmo que tal exercício fosse concebível, W. seria mediano, uma comédia, talvez, com umas pitadas trágicas, como convém; mas nada de muito especial. Só que este filme foi construído em cima da realidade, pelo que esta deve ser tida em conta na hora de o avaliar. E a realidade é que, por muito que o pacóvio texano, unido a Deus para ultrapassar os demónios do álcool e de um pai poderoso e desvalorizante, seja aquela figura que Stone nos mostra, nos briefings e nas reuniões e no Rancho; falta pathos à Casa Branca, aos homens do presidente (medíocres personagens, artisticamente falando) e à guerra. Chaplin e Lewis fizeram-no, com os seus tragicómicos ditadores (é certo que Bush não tem metade da pinta de um Adolfo). Será que é por estarmos a ver tudo, supostamente, pelos olhos do W.? Ou terá ele, em 8 anos, realmente imbecilizado tudo e todos, à sua volta e arredores? É provável que a ideia tenha sido essa mas, assim sendo, perdeu-se uma oportunidade para encenar a idiotice do mundo. Teria preferido o contraste entre o pequeno universo mental de Bush e a enorme relevância de tudo aquilo em que ele toca. Assim, W. entra directamente para a gaveta das irritações de estimação, onde jaz o Benigni com aquela merda de filme sobre a beleza da vida num campo de extermínio nazi.