6 de outubro de 2008

A Madonna

e os seus milhões de fãs ultrapassam-me pela direita. Até hoje sempre assisti a períodos em que não se fala de outra coisa, ou pelo menos em que recomeça a falar-se imenso. Novo álbum, novo clip, casamento, filhos, corpo, idade. Cada vez mais esfíngica e quase-sobre-humana (mas sempre humana), entedia-me constatar o efeito que a personagem tem nas pessoas, mesmo em algumas das mais insuspeitas, na sensibilidade e no bom senso. Sempre me pareceu que a história não podia ter nada a ver com a música (supostamente, a arte dela): nunca foi brilhante. Mediana na essência, como centenas. Sempre contratou bons profissionais daquele segmento que, por si só, não tem nada de especial a apresentar ao mundo. A imagem (o seu ofício), lato sensu, quase sempre vendeu tudo o que Madonna desejou, e a troca foi sendo gerida de forma mais do que hábil, num percurso entre o provinciano com garra e o icónico instalado, sofisticado e inatingível. É qualquer coisa como isto, a Madonna. O beijo à Britney Spears é um raro momento confessional, apesar de encenado noutro sentido. Aquele beijo era ela a dizer que, em termos artísticos, podia ter sido apenas uma Britney, que no fundo iam dar mais ou menos ao mesmo, só que em bem mais inteligente. Não lhe conheço nada que valha a pena ouvir meia dúzia de vezes por iniciativa própria, nestes anos todos. Agora prepara-nos para que pensemos que a queremos ver envelhecer, cada vez mais holográfica mas sempre, sempre mortal (pura prestidigitação: ela já é imortal, até que morra). Vou portanto continuar a levar com ela e a minha única curiosidade é tentar reconhecer o ano em que começará a vestir-se melhor nos espectáculos e a conseguir  favorecer aquele rabo, que também nunca foi nada de especial.