4 de março de 2008

Crimes Barrocos

Penso, logo existo, disse um homem célebre. As árvores do meu jardim existem, mas não penso que pensem, pelo que podemos demonstrar assim que o senhor René não estava no seu perfeito juízo, e que o mesmo pode suceder com todos os outros. O meu sogro, por exemplo, que existe e não pensa, ou o meu editor que pensa mas não existe. E se virarmos o sistema do avesso, continua a ser pouco evidente. Não existo porque penso, nem penso porque existo.

Pensar é certo, existir é um mito. Não existo, sobrevivo. Só vivem - o que se chama viver - os que não pensam. Os que se põem a pensar não vivem. A injustiça é demasiado evidente. Bastaria pensar para nos suicidarmos. Não, senhor Descartes: vivo, logo não penso, se pensasse não viveria. Assim pode fazer-se um belo soneto:

Penso logo não vivo, se vivesse

não pensaria, senhor... etc.... etc.

Se para viver é necessário pensar, somos lúcidos. Mas enfim, se estais convencidos de que assim é, estou inocente, totalmente inocente, pois não penso nem quero pensar. Logo, se não penso não existo e se não existo: Como poderia ser responsável por essa morte?

Max Aub | Crimes Exemplares