18 de agosto de 2007

A ditadura zelota

'Activistas destroem um hectare de milho transgénico em Silves'

A acção foi promovida pela associação ambientalista Verde Eufémia, tendo contado com a adesão de alguma população local e agricultores biológicos que discordam dos OGM. [Público]

O jornalista, como habitualmente, a fazer um servicinho subreptício às eufémias: "alguma população local e agricultores biológicos que discordam dos OGM" não diz nada; apenas pretende alargar a acção para fora do clube do djambé. Quanta população local? Quantos agricultores biológicos? Os jornalistas, de uma forma esmagadora, não só pactuam papagueando o que lhes é entregue pelos nossos novos senhores sem sentirem qualquer necessidade de verificação (que até poderia des-espectacularizar a notícia), como apresentam descaradamente uma marcada deriva ideológica, a nível individual e corporativo, que se apodera da informação produzida.

O hectare de milho destruído, dizem, foi apenas o "dano colateral" de uma acção destinada a lançar o alerta. Mas que assinala uma nova forma de combate ecológico, ainda inexistente em Portugal mas já praticada lá fora. [DN]

Apenas o dano colateral. É bonito ver argumentos mais associados a outros imperialismos na boca da sacristia bloquista. O proprietário da Herdade da Lameira, o senhor João Menezes, discorda. Parece que para ele, para a família dele, para os que trabalham com ele e para as famílias dos que trabalham com ele o dano foi absolutamente central. Não falando do país em que estas coisas acontecem sem consequências imediatas: o dano é central, profundo, estrutural.

Em causa nesta acção está o que os activistas do recém criado movimento consideram ser a "salvaguarda do direito a um ambiente saudável". E a destruição de 2% do campo da Herdade da Lameira uma forma de "estabelecer a ordem ecológica, moral e democrática que tem sido deteriorada pelas políticas europeias e do Governo", explicou ao DN Gualter Baptista, porta-voz da acção. [DN]

Qual é a diferença entre este crime e a vandalização de um carro ou de uma casa, enfim, de qualquer propriedade pública ou privada? Não teria sido possível prender os peter pans ideológicos no momento? Bastariam 10 ou 15 GNRs (provavelmente aqueles que lá estavam), que eles nem cara têm para levar dois estalos.

A auto-atribuída superioridade moral dos zelotas seria a maior imbecilidade desta e de outras histórias, se a maior imbecilidade não fosse o facto de lha confirmarmos com o nosso assobio para o ar. Como escreveu em tempos Alain Minc, "vocês são o nosso contrapoder, mas nós não nos atrevemos a ser o vosso".